Por muito tempo, o corpo da mulher foi silenciado. O prazer feminino, quando não ignorado, foi reprimido por séculos de moralismo, tabus e construções patriarcais. Entretanto, o processo de reconexão com o corpo e com a energia sexual vem se tornando um movimento de cura, empoderamento e saúde.
A saúde sexual feminina vai muito além da ausência de doenças ginecológicas: ela envolve bem-estar emocional, autonomia sobre o próprio corpo, liberdade de sentir prazer e de vivenciar a sexualidade sem culpa. E, nesse processo, os exercícios pélvicos, como os de Kegel e o pompoarismo, surgem como aliados poderosos.
O que são os músculos do assoalho pélvico?
Os músculos do assoalho pélvico estão localizados na base da pelve, entre o osso púbico e o cóccix. Eles sustentam órgãos importantes como bexiga, útero e intestino. São músculos fundamentais para a estabilidade corporal, o controle urinário e fecal, o parto e também para a vivência do prazer sexual.
Quando enfraquecidos — o que pode acontecer por parto, sedentarismo, idade ou traumas — esses músculos perdem sua função de sustentação e controle, podendo gerar incontinência urinária, prolapsos (queda de órgãos) e perda da sensibilidade sexual.
Exercícios pélvicos: uma prática milenar e moderna
Embora popularizados na medicina ocidental pelo Dr. Arnold Kegel, esses exercícios têm raízes muito mais antigas. No Oriente, especialmente na Índia antiga, práticas similares surgiram dentro do Tantra, filosofia que vê o sexo como uma via de conexão com o sagrado e o autoconhecimento.
Técnicas como o pompoarismo (ou pompoir) derivam dessa visão e combinam exercícios físicos, respiração e consciência corporal para fortalecer a MAP (musculatura do assoalho pélvico), potencializando a vivência do prazer e da autonomia sexual.
Benefícios dos exercícios pélvicos para a saúde feminina
1. Fortalecimento e prevenção
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Previnem e tratam a incontinência urinária (comum após o parto ou com o avanço da idade).
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Auxiliam na recuperação pós-parto e na preparação para o parto natural.
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Previnem prolapsos genitais, oferecendo suporte interno aos órgãos.
2. Aumento da sensibilidade e do prazer
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Aumentam a circulação sanguínea na região genital, o que melhora a lubrificação natural.
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Favorecem orgasmos mais intensos e melhor percepção do próprio corpo durante o ato sexual.
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Despertam áreas do prazer antes adormecidas por traumas, repressões ou crenças limitantes.
3. Autoconhecimento e saúde emocional
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Auxiliam na quebra de padrões limitantes herdados de uma sociedade patriarcal.
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Promovem o empoderamento e a sensação de que o prazer é um direito, não uma obrigação.
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Contribuem para a melhoria da autoestima, da autoconfiança e da relação com o próprio corpo.
Prazer é cura
Muitas mulheres que acreditam ter “problemas físicos” relacionados ao prazer, libido ou orgasmo, na verdade estão lidando com bloqueios emocionais, traumas ou repressões inconscientes. Ao iniciarem práticas como o pompoarismo, descobrem que o corpo é um território de sabedoria — e que há prazer onde antes havia silêncio, medo ou dor.
O prazer não é superficial. Ele é uma via profunda de conexão com a vida, com o presente e com o próprio corpo. E quando aliado à saúde, ao amor e ao respeito, torna-se uma experiência sagrada.
Uma prática diária de amor-próprio
Cuidar da saúde sexual é um ato de resistência e autocuidado. É uma forma de desafiar séculos de controle sobre o corpo feminino e resgatar uma energia vital e criadora. Os exercícios pélvicos não servem apenas à estética ou ao desempenho, mas à reconexão com a própria essência.
Amar o corpo, tocar o corpo, movimentar o corpo — tudo isso é parte do nosso direito à saúde plena.